terça-feira, 9 de abril de 2024

Watt volt joule


Senhor ampere corra na descrição

de um ponto ao outro no meio da multidão

de eletrões tão sem significado

se o som é mais lento mais vale ficar calado

e porque é que a voz do telefone é tão iminente?

é porque se converteu em luz e no agora já está ausente

watt volt joule silencio inocente.

sábado, 16 de março de 2024

Clepsidra de bolso XX

Quando o tempo é doloso

Os relógios abrandam

Quando o vento é ventoso

Os palácios desabam

Quando as vidas acabam

O tempo persiste

Quando as palavras divagam

O Nada existe.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Abysmo


Pensar é perder:

pensei que se fosses e eu ficasse

estarias melhor e eu bem estaria

pensei que se eu vivesse na sombra

tu resplandecerias na magnifica luz do dia

pensei que se fosses feliz, eu tambem seria

pensei que se fosses imortal

eu nenhuma falta te faria,

e tu poderias brilhar num sonho matinal

na minha utopia.

Pensei que os pesadelos e a insónia não exixtiriam

pensei que a culpa e o remorso desvaneceriam

pensei que deus existia

pensei que a esperança bem fazia

e pensei que tinha pensado tudo em vão,

e deixei de pensar então,

nao penso mais. 

Sou irracional emoção

de revolta contra os pecados capitais

segurando o desespero na mão:

Pensei que te veria mais

até eu fermentar sob o chão

mas pensei erradamente

inversamente!

e a vida irracional deu-me um empurrão.


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Domingo


num país sem igual

repousa a classe maioritária de oprimidos

julgam-se os eleitorados e os vencidos

em parte tangente a Portugal.

chega domingo e

São vermelhos, são rosas e são laranjas e são azuis...

e nenhum ilumina o arco-íris, nenhum vigora num jardim

os insolares também pecam para não comprometer

a missão e o desiderato de perder.

termina domingo e

Não vamos viajar

há muito trabalho vamos descansar

há decisões por conhecer

todos a mentir e tantos sem votar.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Ultimas Falas (poetria perdida)


Tardei em ser jovem

e fui jovem durante pouco tempo.

Ouvi pouco e falei demasiado.

Agora tanto faz.

Sigo em frente mas só olho para trás.

Não cheguei a firmar domicilio.

Vivi sem casa.

Agora nao quero que ninguém em mim tropece

Seja a campa rasa.

domingo, 11 de junho de 2023

FALAM DE MIM


Falam de mim...


Por agora, na sensação do espaço / no seu sentimento.

na simples perceção do limite / na percussão cardíaca contra cada delimitação

reside um senhorio e um hóspede / uma inflamação 

e um unguento.


Em breve, será a liberdade apenas uma promessa suja / de propaganda

e a suposta realidade do impossível: meramente isso.

Na porta um fechadura sem chave / e sem serviço

até ela nada se dirige nem anda / só tresanda.


Agora, atrevo-me a falar do espaço e do tempo / mesmo assim

sem soneto / sem significado e sem cuidado semântico

num predicado desprovido de estilo / embora romântico

no inicio foi o verbo / agora fundamentalmente o fim.


Pois que quando o tempo e o espaço se perdem / tudo é vazio

a memória, o passado e o futuro derretem / o círio abençoado

desmoronado / e sem pavio


Muito embora, o rosto estará macilento e frio

quando tão grandemente foi rosado e sadio.

Assim tudo se afoga/ nesta água de um rio / sem foz / sem fim.



quinta-feira, 24 de março de 2022

Carta branca

Udenista, hedonista, anedonista. Ateu.

Nada, neocartilagineo, gastrópode. Filisteu.

Rastejante, considerante, ignorante. Plebeu.

Subrreptício, anticomício, niilista. Sou eu. 

terça-feira, 2 de março de 2021

Confissão

Quero abraçar-te com os meus braços amputados
pelo frio da vida
E delegar a tua ambição
Numa eterna angariação
de coisas pequenas
E renovar os meus vícios difusos
Quando eu mesmo
careço de ambição.
Hei-de perpetrar os teus sonhos
Na tua Lua que cativo.
E cingir-me apenas às virtudes imprecisas
do meu beijo.
Peço-te apenas que me defendas
Dos ataques da indecisão
e logres talvez demonstrar-me
a essência da vida antiga.
Quero abraçar-te num último adeus
Para que não mais surja em mim
o estorvo eterno dos lustres
que consomem a chama da minha ambição
como se fosse apenas amiga minha,
A escuridão.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

primavera inevitável, desejável, da alma

 São de ferro os arados que me reviram no planalto

da saudade defunta renascida no meio do ódio e da revolta

são de pedra os muros desabados pelo lamento

e que vergaram nos critérios do tesouro do tempo.


Verdes são as aspirações imaturas, impreparadas, imprevistas

outrora fundamentais, tenebrosas e sem calma

São negras, chamadas de sonho e de desejo,

podres agora sem alma e sem almejo.


Ainda espero que a America do Sul me chame

e não mais estanque os meus sonhos no planalto que já

não conheço nem ele me reconhece e lhe sou infame

fui abelha de outra colmeia e sou vespa africana por cá.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

 APENAS AMO O QUE ESQUEÇO

Não mantenho nem permaneço
E só o inalcançável me seduz
Mas quando o agarro e mereço
Só isso chega para angústia e cruz.

Não seguro nem cativo
E somente o caminho me chama
Na incerteza de estar vivo
Quando ninguém me ama.

Não termino nem começo
Sem ser no tempo e sem ter no espaço
Apenas amo o que esqueço
Apenas destruo o que faço...


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

CICLICAMENTE

Não mantenho nem permaneço
Pois apenas amo o que esqueço
E só o inalcançável me seduz
Mas quando o agarro e mereço
Só isso chega para angustia e cruz...

sexta-feira, 11 de março de 2016





















Um homem p´los outros perdido
por si mesmo encontrado
quando incompreendido
ou é deus ou é diabo!

Agora... oiço o Tó Trips e esqueço-me
do rosto triste e dos sorrisos polidos
agora, leio Fernão Capelo Gaivota
sendo Jonathan Livingston Seagull
e nem na forma original o alcanço.
As viagens são de mim introspectivas
os caminhos são meras liberdades
o culto da imagem rebenta-me
vejo gente desperdiçar talento
e o mal de mim sou eu.
Agora quantos dias faltam para depois?
Quem me diz qual a pergunta certa
cuja resposta está sempre errada?
O agora é impossível.

domingo, 16 de março de 2014

Ao rei de nós todos


O próprio Bombarda antes de ser morto por um doente
O declarou influente doudo mental
E tão pertinente, ainda em Rilhafoles se fez mais e mais estridente
o homem que reparou no tédio da sociedade banal.

Ângelo de Lima felizmente triste
Encantadoramente e ineficazmente vencível
Pobre o burguês ridículo em despiste
na sua tela de tintas e do banho d'óleo incoercível.

Não se consagrou... fumava muito o coitado.
Mas encheu-se de maravilhas e funestas misericórdias
E embebido em utopias isolou-se no seu menor prado
entre a alucinação d'ouvido e a ideia. Sem reunir concórdias...

...Bem
Bem que...

Poderia ter ajudado na revolta,
mas já a doença o consumia.
A república lá veio meia torta
e só outras cousas Ângelo ouvia...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



Vou agora

É obrigatório ser-se demasiado.
É indispensável exagerar mesmo um pouco mais
Onde crescem as saudades neste sentido deslumbrado
De quem grita muito mas só espanta os pardais.

Porrada. Já levei porrada.
Na ribeira que não desagua nunca na praia
A vida entoada pela raiva vale tudo e vale nada
Montanhas de cuspo! Espumavam na boca da minha raia.

Prometo voltar às escadas. Sempre para subir.
O sol que reluz no Novembro ameno
Despreza os que pedincham atenção no vão do ir.
Aquece-me os passos no passeio mais terreno.

Contra o vento. Contra o vento.
Nem mais um dia nem uma hora só que vá
Conspurcar a sensível magia do meu alento
Em erguer-me no meio dos de cá.

Culpa minha. Sempre culpa minha.
Nem o mundo que roda em seu redor nota
Nem mesmo o brilho do sol que definha
Nestes passos, culpa minha.

Não mais irei. Rumarei jamais.
Que a senda da minha barca sem remos nem quilha
Conhece margens e desconhece cais.
Derivo no mundo infértil que aos outros maravilha.

sábado, 12 de janeiro de 2013



Junho moço

De Junho quero as noites amenas
A brisa quente das dez e meia
E da serra da Figueira quero as pequenas
Sombras que oscilam na noite de estrelas repleta.

E quero o ar leve da manhã de fim-de-semana
Com o sol brilhante das nove horas certas
E do rio, o som da água que serpenteia
Entre os socalcos verde-rubros destas terras.

E ainda quero as tardes quentes no bairro
As corridas de bicicleta pelas três e pico
E do jardim da vila, a água refrescante da torneira
E os risos das donas à janela nas ruas antigas.

E quero voltar a casa para jantar já tarde
E haver frango e esparguete às oito
E desinfectar os arranhões com mercurocromo
Mesmo a tempo de ver os jogos-sem-fronteiras.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os massons, os maus e os homens bons

Cabrões dos massons! Sacanas parvalhões!
Pseudo-eruditos oportunistas
Antípodas da glória
Gorilas chupistas!

Sacanas os maus
Palitos paradoxais
Paralíticos comem arroz com paus
São maus e anormais!

Filhos de puta os bons
Sempre armados em santos
Embelezam a vida em outros tons
São poucos, são tantos…

terça-feira, 11 de outubro de 2011

FOME



As Imensas Questões


A multidão atropelava-se
O burburinho ecoava nas ruas e nos becos da cidade
Um trovador ainda cantava,
Bêbedo e desesperado
Algo vinha engrandecer o tempo daquela idade
E nenhum algo era mais imenso
Nem montanha, nem prado.
Antro de dolência faminto e propenso
A guerra estalava em cada um dos homens
Quando o silêncio criou o fim da seriedade cénica
Perante o aparecimento das imensas respostas
Eram eternas e mais que muitas
No dia em que tinham cessado todas as perguntas
Rejubilaram as multidões
Perante as respostas eternas quando já não havia mais questões.
O choro de uma criança purificou o chão imundo
Pois não restavam dúvidas no mundo.
A loucura extrema rebentou.
Tinha começado o último cataclismo.
O fim do mundo tinha começado.

Larsen B



Larsen Bê. Larsen Bê…
Quis como Camus e o pai e o filho Dumas
Fui como um qualquer, Sartre na TV
Não deixei saudades nenhumas…
Ai sei lá se existo
Se sinto-me desterrado em Monte-Cristo
Venha uma dama de Camélias
Tirar-me a Náusea do absurdo do Sísifo…
Subitamente:
Desintegrei-me no meu próprio sonho
Vivendo além do integro suspiro de consciência
Vigorava no meu olhar um horizonte de latência
Aos teus olhos, meu mar, o que eu vejo proponho.
Não mais me encontrei,
De tão duro ser parecia impossível desintegrar-me
Mas tristemente constatei
Que este mundo jamais irá encontrar-me.
Pois fui embora extasiado
Viram-me de olhos vítreos afogar-me hipnotizado
No duro ser que eu incorporava
E tornar-me naquilo que ninguém sonhava.
Pura água. Apenas água.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Noções métricas da vida



Da distância inerme entre o amor e o ódio


O ódio e o amor sabem os dois o mesmo
Sabem do frio e do calor
Da paz e da violência
O ódio e o amor
Sabem da acção e da latência
E sabem ao mesmo sabor
De vida e de doença
Ambos são alimentados
Pela mania
Pela obsessão
Para numa idiossincrasia
Se revelarem publicamente
Como amor e ódio em qualquer concentração
De gente e de almas.
Estas duas ideias calmas
São a ideação do sentir.
Obrigam à verdade
Mas sentem-se melhor ao mentir.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A casa que ama

A criança chegou a homem simples
Com a sua glória desinfinita
Sem se estender na casa onde ainda habita.
A glória de sonhar sucumbe-o.
O olhar com que ele abraça o espaço
Deixa o sol de sombras arrebatado
E tudo parece padecer de cinza e frio aço
Por entre o carnal e intempestivo malogrado
Que agora se vê de volta a casa na sua morte,
Subiu ao norte.
Morreu hoje. O homem que nunca saiu daquela casa.

domingo, 4 de setembro de 2011

Mundo de contradição, valores morais e hipócritas:

Últimos versos XI

Estou fascinado com a quantidade de irresponsáveis
Que brotam por entre as pedras
Todos os dias.
Aqui nada se aprende.
Estou irremediavelmente assustado
Com os incompetentes que vão um dia
Desgovernar ainda mais esta desgraça.
Ando a tentar compreender o porquê da Maria fútil
E do Zé inútil.
Ando para desistir de me revoltar
Perante a meritocracia corrompida,
O senhor cunha e as latas de graxa.
Não compreendo o porquê mais básico.
A tal essência humana.
Estou insatisfeito sem solução.
Algo correu mal nesta evolução.
E quando penso que o mundo estará de pernas para o ar
Oiço muitos dos que conheço
E apetece-me de facto não ouvi-los nunca mais.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rumores para o homem sem mais respostas

Rural é o silêncio desta madrugada...
Promete desastres na embalagem desta trovoada
Os cães já há muito estão calados
Assegura-se um mistério
Vejo os clarões iluminarem como se fosse dia
Ali mais abaixo sobre o cemitério
Os pinhos agitam-se aterrorizados sob nuvens rápidas
Perante o trovão que rasga e que parte
Como se desabasse a Serra do Homem de Pedra ali à frente
A aldeia está deserta. Não há gente.
Os morcegos esbarram contra as paredes da casa
Já todos estão recolhidos no seu regaço
Mas eu aguardo aqui no terraço
Vejo a chuva chegar sobre uma tempestade seca
Molha-me violentamente como um rumor de inverno
Gelada
Consistente.
A água ainda me faz vacilar,
O vento responde e empurra-me.
Nenhum deles pode conduzir-me a lado nenhum.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Últimos Versos XVI

Nisto aqui que não é nada:
Neste sonho que não cessa,
Nesta imensa culpa submersa.
Neste asco de vida.
O pesadelo perfuma-se
De nojo e de luto na alma vencida…
Neste tempo que não conta
Há valor que não nota
Noutro valor que não emerge
Neste mundo que não importa
Há seres que não vivem
E pedras que se afundam na areia
Neste viver desnecessário
Nesta razão inexistente
Sobrevive a mudez da palavra
E o silêncio de quem morre calado.

domingo, 14 de agosto de 2011

A porta

Aos 47 hei-de fechar o coração
Já serei velho e menos crente ainda
Mesmo que à minha maneira
A chave ficará encravada no canhão
E nunca mais ninguém entrará
Enfim, vai ser assim
Aos 47 tranco a porta
Não entrará nem mulher linda nem homem amigo
Nem mais família que nem todos são meus primos
E acaba-se a porta aberta
Estará na hora da vida mais esperta
E fecho a porta e pronto
Nem bom dia aos vizinhos
Um olá aos padrinhos
Mas…
Coração aberto só p’ós irmãos e p’ós meus pais
E fecho a porta. Aos que já saíram e sairão, não voltem
Entrem até aos 47 se quiserem
Mas depois não voltem mais.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Horto de Paixão

Ainda vou ter de subtrair-te da fotografia
Que eu deixei espalhada
Pela sala da ilusão
Na peça de teatro a tua roupa está fria
Estás de novo como actriz falhada
Numa novela da televisão.

Ainda vou procurar o âmago do teu perfume
Quando o encontrar hei-de o destruir
Perdoa-me mulher neste amor ao meu ciúme
Estava apenas a tentar cativar-te para te instruir.

Não sei mais se vale a pena a questão do amor e da ilusão
Duas chamas eternas assombram a casa
Uma quer ficar mas a outra não.

terça-feira, 2 de agosto de 2011


Bens Essenciais


Todos querem ser salvos.

Tenho tudo o que preciso

Muito mais ainda me sobeja

Por isso não voltarei àquela igreja

Onde muitos outros perdem o juízo

Essa conversa de milagres e de fé

Deixa um gajo enjoado

Que por muitas voltas que não dê

Acaba sobre o vomitado.

Não preciso nem de deus nem da aurora

Eu ando aqui a curtir a vida

Até que um dia irei embora

Não preciso nem de fé nem de espírito santo

A minha alma está limpa

Lavo-a com a paixão e o meu canto.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Enquanto me sinto desapaixonado



Por uma vez, a dor de Mehmet Klepo

Vou onde me explicarem do ódio
Onde me falarem da morte
Onde me quiserem vivo.
Vou onde as ondas vão
Bater no colo das pirâmides de terra
E nas entranhas das progressivas massas desiludidas.
Vou onde o vento começa
Nidificar uma ideia, uma nova visão, um olhar
E estabelecer ténues partituras de lirismo e de injustiça.
Vou onde os equívocos moram
Para querer o pouco bom da vida e o menos mau
E separar as sendas, o estigma e a beleza. Enganar-me também.
Vou. Vou onde quer que vá
E já termino a insuportável missiva que transpiro
Para num sono eterno repousar entre as lápides do vinho sôfrego
Que me sacia…

segunda-feira, 30 de maio de 2011



Imo das orelhas uma vez mais para ser mais são

Águas negras.
Águas negras.
Sou como um riacho que desce rapidamente
Isto faz de mim mais transparente
Por ser pouco profundo.
E encaro no fim quando bato nas aras do açude
Um sonho evasivo mas eloquente
Para que me altere este mundo
E para que o mundo eu mude.
Mas o açude afoga-me as tenções da corrente
Numa calmaria negra e profunda
E as minhas ideias vogam na vaga latente
Onde uma maior égide superficial abunda.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ESTA VIDA É COMO O FUTEBOL: SE CORRERMOS NO SENTIDO ERRADO NUNCA VENCEREMOS E PROVAVELMENTE IREMOS FAZER MUITOS AUTO-GOLOS...

Infâmia

Sou a pessoa mais intolerante que conheço
Pois não suporto senhores doutores
Temo até alguns professores
Por eles ensinarem tão mal.
Não suporto ainda aqueles meninos ricos
Pseudo-intelectuais eruditos
Pães sem sal que brilham sem fermento,
Da sua abundância excessiva eu lamento.
Não tenho paciência para gente da religião
São todos trapaceiros
Metem a cruz por um tostão
Mentem por um milhão de dinheiros.
E não suporto os jotas políticos
São ranhosos paralíticos
Que até andam mas para onde não conseguem ver
Nesta meritocracia podre acabarão por vencer
Mas eles são uma grande razão
Para esta merda estar cheia de recessão.
E não tolero fascistas nem pseudo esquerdistas
A política faz-lhes mal.
Tolero enfim Portugal…
Mas não aceito engenheiros sem visão
Que não reconhecem régua nem esquadro
Mesmo quando estão na sua mão.
E não posso ouvir os especuladores perversos
Que vogam vilmente na televisão
Antes pudéssemos ver uma novela
Um filme chato dos Estados Unidos
Ou a impura luz d’ O Império dos Sentidos
Mas aqueles abutres não!
Não consigo coabitar com este culto da imagem
Cultivado por esta sociedade depressiva
A socialização ficou retida na miragem
Patente num livro de caras da beleza agressiva.
Nada neste mundo me deslumbra,
Fico contente quando alguns sacanas
Por muito pularem, caiem no buraco
De resto sobra só a penumbra
As bebedeiras de sarabandas
E o meu discurso fraco.
E já se sabe como é:
Tantos tiros no escuro
Quantos tiros no pé.

sábado, 1 de janeiro de 2011



Agora

Dou comigo sobre o eternamente pensando
Ouvindo rumores do passado distante
Murmúrios de um tempo e de um quando
Que está vivo e que acredito ser pensante.

Dou comigo a pensar sobre o irreversível
E tudo assim mesmo me parece
O que já passou não deixa de ser invisível
Para quem de tudo teimosamente não se esquece.

Dou-me agora mesmo ao futuro
Entregando a alma sobre o balanço
Na manhã primeira do silêncio puro

Caminho pouco e já me canso.
Espero que o mundo me encante novamente.
Dou comigo pensando sobre o eternamente…

domingo, 19 de dezembro de 2010



Tempo

Tudo pertence ao tempo
E ao seu tempo tudo deixa de pertencer
Quanto tempo dura este tempo
E quantas horas para me arrepender?

Pois o tempo que me ensinou a memória
E a memória que me ensinou a nostalgia
Calmaram a minha senda de vitória
E o meu tempo passou de um ano a um dia

Tudo pertence aos relógios, às clepsidras da vida
Cada ponteiro esgueirado pela Terra vigora
Em pensamentos sem solução nem saída.

Vulgarizo-me então nesta mesma hora.
Também pertenço ao tempo
E na memória, embalo o meu lamento.


Este mundo

Desarmam-me as poucas coisas que amo
De resto é tudo muro, silêncio e fachada
Um pleonasmo ou outro,
Falta-me tudo quando não me falta nada.
Escuto o fino soar do tempo que segue num sentido só
E só me encontro no desencontro de um amar
Por amar apenas um só momento
Sem piedade, sem compaixão, sem dó
Compete-nos continuar
A amar com a certeza do crescimento
Deste ténue e frio fermento
Que me projecta sobre a solidão dos sós
Na rua sobra-me pouco
Confundem-me com um não louco
E desconfiam de mim e do meu desgosto por nós
Tudo é saudade.
Tudo é triste.
Tudo é tu e eu.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ninguém bebe por tristeza



Meio tempo

Estou farto deste mundo e da maior parte das pessoas que conheço
O primeiro não difere muito do próximo mundo que irei odiar
Às pessoas apenas lhes prometo que não as esqueço
Mas esta minha faculdade começa-me já a atormentar

Mesmo a barriga mais vazia fica um ventre dilatado
Este mundo revolta em mim a um ser ainda mais acanhado
E cheguei a pensar que amanhã não pensaria assim…
Estou farto das pessoas que conheço e do mundo em mim!

Já não tenho paciência… e tudo o que oiço parece escusado,
Nem o engenho nem a ciência poderão quem sabe, solucionar…
Este mundo a cimentar a idiotice fútil,
Trágica e cómica que proíbe pensar.
Olhei para trás aqui há uns dias.
Percebi que a culpa ainda era minha.

Isto não presta para nada. Não importa!
Importante é sonhar.
Mas injusto é cada dia em que vejo a falsidade vencer
Mas já não me enoja como antigamente, agora vomito de imediato!
Fecho a porta!
Falo em morrer.
Sacudo as migalhas da barba, leio o semanário do hipócrita
E pergunto-me: onde é que eu já vi esta merda?

No fim, um sorriso fará todo o sentido...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PALAVRAS

Parole

Muitas palavras são mal interpretadas por muita gente,
O silêncio pode ser inequívoco mas também pode suscitar dúvidas.
O mais provável é apelarmos à segurança de ser mudo.
A comunicação que é a definição mais pura de arte, é-me indiferente
Guardo cativos em mim desígnios de criação e espontaneidade, contudo
Ler também pode ser perigoso, e quem escreve pode ser mudo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010




Carta número 99 - devolvida


Meu amor:
Quero que saibas que já dissequei o sistema límbico
E abandonei o vício de padecer de emoção
Num torpor sísmico
Agarrei-me à vida e disse NÃO.
Ainda espero pela tua resposta que tarda em brotar
Sei que não és como a carneirada habitual
Hás-de tardar em me revelar a tua graça salutar
E eu hei-de esperar de pedra e cal.
Mas por vezes a dúvida flagela os meus sentidos
E por momentos que só eu sei serem breves
Cai sobre mim a emoção com tanta força que me estalam os ouvidos
Não me temas como temeste ao abominável homem das neves
Dá-me um sinal.
Recebe esta carta e não digas mais nos correios que mudaste de região
Estás plantada no inerme e desfalecido patriotismo original
E todo o chão que tu pisas é a minha religião.

terça-feira, 19 de outubro de 2010



As histórias tristes

Eu gostava de ouvir as histórias tristes
E perceber que os outros também sofriam
Compreender que eles também sabiam
Que eu também tinha histórias tristes

Eu gostava de saber das tristezas
Investigando-as, estabelecia formas de as evitar
Mas sempre perseguido pelas incertezas
Acabei muitas histórias a chorar

Eu que gostava de histórias sem final feliz
Hoje não tenho paciência para nenhum queixume
Tantas montanhas de tristeza sem cume
Que me fizeram querer aquilo que nunca quis

Que foi querer gostar de histórias contentes
E fazer por ouvir e por contar histórias diferentes
Que nunca passaram de estórias sem pejo
Mais uma carrada de mentiras e um beijo… de boa noite.

sábado, 2 de outubro de 2010



Auto-conceito

Meu amor
Eu valho pouco
Mais cinzento pareço
Como uma erva daninha em flor
No meu sentimento rouco
Que de te amar estremeço

Não fosses perfeita
E eu pareceria menos mal
Mas meu amor
Já nada me ajeita
Nem mesmo a máscara que me deste pelo carnaval
E nenhum beijo teu me sublima esta dor

De ser tão horrível como sou
Tão perecível que me remói
Ao encontro da sombra mais negra e fria
Meu amor por onde eu vou
Nenhuma dor minha te dói
Quando eu sou esta carcaça vazia.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Visão de divisão



Estado de não ser

Gosto de fazer de conta que sei
E eu sei que nada enfim domino
Apesar de dar passos de rei
Por entre o gatinhar de um menino

Acredito que desconfio de tudo o que não noto
Notoriamente me julgo corpóreo no vazio
E ainda mais me ilumino num sonhado topo
Apesar de estar agónico no fundo de um rio.

Sorrio com a força de quem quer rebolar em pranto
E pranteiam-se as faces que me escoltam na vida
Quando me emulsiono sem nenhum encanto
Por entre as ilusões das entradas sem saída

Eu sou pálido por querer e sou difícil de entender
Mais me faço ainda notar por entre a náusea triste
Que eu quero mais é desnascer
Por entre a minha ânsia de abarcar o que não existe

Mesmo assim, sou um hipócrita tamanho
No meu redor turbulento, melancólico e castanho
E não quero um reinício nem um desnascer
Eu almejo a suprema vitória. Eu ambiciono desaparecer.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aos últimos 46 anos do Pachá




“Deixarei de fumar quando deixar de comer.”

De ficar a olhar para altares
Dizem que desistiu.
No olhar por vezes cego de raiva
A alucinação venceu-o em qualquer hora.
Costumava fechar-se em casa
Durante dias, durante meses.
Internado na psiquiatria
Demasiadas vezes.
Mesmo assim quando sorria
Mostrava a paz que não sentia
Nele vigorava uma guerra violenta
De que nenhum derrotado povo se lamenta
Era uma guerra mais singular
Não sangrenta mas capaz de matar
E este seu propósito não teria fim.
Abdicou de comer,
Desprezou a medicação.
Custou tanto viver,
Morrer talvez não.

sábado, 31 de julho de 2010


Auto de Niilismo

O bálsamo da minha coerência sabotada pela razão
Estremece na culpa que no vulto me é um não
Que me nega estridente sem me remeter sequer à surdina
Nem sequer me salva da opinião de quem demasiado opina.

Espanto a solidão com gritos que espantam os pardais
Dirigidos sobre os ventos, as marés contrárias e os mais selvagens animais
E de resto, afundo-me na ignorância furtiva que me mata sem dó
E no silêncio que me mata desde o nascer até ao meu pó.

Oiço no fim os silêncios do mundo agarrado ao meu ninguém
Que aperto no colo que mesmo quente, treme de temores
Sonhando com o meu amor, o meu bem-querer e o meu bem

Fecho os olhos entorpecidos por todos os meus sonhados horrores
Que se os abrir sei que não vou ver nada nem ser algum
Pensei ter rumo na vida mas sigo em frente sem nenhum.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vulto protésico

Perdoa-me mesmo que eu não me arrependa
Ensina-me mesmo que eu não aprenda.
Liberta-me mesmo que seja eu o carcereiro
Ama-me mesmo que eu te odeie primeiro.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Auto de corno

Agora que aceito que nunca serás minha
Quero que fiques feia e gordinha
Quero que sejas vista como mulher daninha
Sem esperança, mulher sem história
Sem glória nem trança
Quero que por todos sejas ignorada
E que nunca tenhas nada
Nem ninguém que te faça sorrir
E para sempre hás-de carpir
E nunca poderás parir
Não por infertilidade
Mas por renovada virgindade
E então
Como sempre sonhaste
Quando me desgostaste
Irás de mão em mão
Desde o vilão ao cabrão
Desprovidos do sentir
Nenhum te quererá ouvir
Desprezada
Para sempre envolta em nada.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

...Que se apaga a luz

A pastilha

É amargo e espinhoso
Agreste, doloroso
Inalcançável
Fútil
Execrável
Inútil
Indecoroso
Hediondo
Horroroso
Que me ressalta num estrondo
Como um Ai Jesus
Um Diabo na Cruz
Que mais não me fará sofrer
Este sentimento – esta mágoa que insisto em remoer.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ave-Lepidoptera

Não me interessa se tens os olhos de vermelho pintados
Ou os cabelos sedosos de lavados
Não me interessa se tens nos lábios batom
Não me interessa se ficas calada ou se exibes qualquer som
Não me interessa mais nada sobre a tua forma de ser
Não me interessa o calor nem o frio nem a chuva do teu olho a romper
Não me interessa o calafrio, o desvario ou a tua razão
Nem sequer quero saber se me irás dar a mão
Quero apenas sentir a tua pele quente
O teu cheiro libente
A tua sombra clandestina
Que me mitiga e ilumina
Sem demais me irromper
Para sempre sobre mim a tua vida
Irá permanentemente permanecer.

quarta-feira, 23 de junho de 2010




Óbito falhado

Sol irrompe no olho das pálpebras coladas pelo sangue
Convulsão jorra numa inspiração singular
Num corpo imaterial e quase exangue
Bate o coração do corpo no chão a definhar

É que a bala não passou – o martelo bateu mas não disparou
E o corpo caído estará por ventura combalido
Mas somente do barulho que ao tímpano sangrou
Ergue-se o corpo agora novamente convencido

De que da próxima terá mais sorte
E que de forma inequívoca alcançará a morte
Ainda bem que subiu ao telhado que sombreia toda a cidade
O salto será a seguir. A morte será a verdade.



Uma casa em Meimão

Minha calma absurda abala o colo da Malcata
Na paisagem verdejante no silêncio do ar calmante
Sobram reflexos nas águas negras de fina prata
Entre esta raia de sombras do esquecido emigrante

Violento pasmar no crepúsculo de Outono frio
Cinzento o chão de granito, branco o sol da manhã
Geladas as águas da ribeira filha de um rio
Que voga na barragem mais acima barrosã

A terra faz o açude. As pedras sobem aos cumes.
Começam as queimadas para o frio inverno
Os senhores proprietários e seus lumes

Poupam-se assim ao inferno,
De perder o controlo da chama e verem o verde acinzentar.
Desta casa cá em cima vejo a vida continuar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010




Sirvo, Servo

Anda meio mundo a debater a economia
E eu ausente - pergunto-me se existo
Tal como duvido do vosso Cristo
Tenho certezas absolutas de bonomia

Admiro a viagem das nuvens que rumam a norte
Tão belas e separadamente cada uma à sorte
Onde irão parar essas belas nuvens brancas no azul fulgente?
Dizem que choveram tempestuosas na França e morreu gente.

O Saramago morreu e a evidência é de que muitos o recordam
Até na merda do facebook o abordam
Gente que tenho certo não o saberem ler
E haverá mais ironia? Que mais restará a fazer?

Ignorar por ventura;
Voar com Coutinho Cabral e Gago Sacadura…
Ou como Amelia Earhart?
Perder-me eternamente em qualquer parte.

E ainda há aqueles que pensam que por pensar
Se poderão satisfazer ou pelo menos ilibar…
A culpa é o rumor das batalhas perdidas
E a responsabilidade é a aversão das costas aquecidas…

Largas fossem. Largas fossem.

ARRELIA

A inesperada alma
É a que consome
É aquela que se some
Que se cala de tanto se calar
Deitem a cal sobre a alma
Que essa mais nenhuma outra alma
Poderá enganar.

terça-feira, 25 de maio de 2010




Sete finalmente e mais um


Todos os sete pecados mais a melancolia
Com o Tomás de Aquino e o Evágrio do Ponto
Eles negaram-me a amena razão de pecar em euforia
Que eu queria mentir com a mentira de nunca mentir

Esconderam-me da sabedoria e da revelação
E eu lancei-me estulto e mágico sobre o alçapão
Pecado mortal gritou. Capital reforçou.
Para mal dos meus pecados, a corda quebrou.

Hoje, agreste é a consciencialização da culpa sem cura
Nenhuma paz ou sublimação nem sequer nenhuma loucura
Me podem aliviar, paliar a sombra divina de um deus morto
Que de azul me entrego, integro no antro corporal absorto

Que é a minha forma distinta de me ocupar
Por entre as dúvidas capitais de um mundo singular
Onde caveiras negras alucinam as ruas da cidade
Que conspurco com a minha simples presença e a saudade

O meu maior erro é a melancolia
Que essa eu não sabia ser pecado. Eu não sabia.
Pareço um verme espezinhado no chão
Inerme, desfeito, odiado, sem salvação.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Gagarejar é indelicado




Abjecto luminar

Náuseas vãs inundam colos silenciosos
Superficiais são os outros que se protegem
Entidade paternal inventada pelos invejosos
Que por não saberem nadar não imergem

Criam-se citações facilmente
De boa vontade ou com interesse
De coisas belas inversamente
Queixa-se o povo: este e esse.

Ao contrário, hasteado o semblante aborrecido
Num balanço etéreo da alma e da cruz
Foi morto lá noutro mundo desvanecido
Havia bosta no chão que não era reclamada pelos cus.

Agora vejo com mínima vontade
Que ninguém aqui quer construção colectiva
Sobeja enfim a abstracção repetitiva
Dos que se dizem fazer e ser bondade.

É fácil demais falar do passado com um sorriso
E cuspir no copo onde bebemos o hoje em dia
Mais união é que era preciso
Afinal o colectivo é feminino e eu que não o sabia.

Quanto mais desiludido melhor
Sonhar não é preciso. Necessário é encontrar
Encontrar cada bocado de dor
Enaltecer cada dia e cada luar…

Mas trovoadas calam as paredes
Garantem os outros que se protegem
Já presos nas imundas redes
Morrem. Nunca mais emergem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Doenças de plástico

O plástico das nossas vidas não pode ser reciclado
Ele está como a farsa, inerente na vida
E a mitose do pensamento é a misericórdia do pecado
Pois no bem ou no mal, é tudo filosofia embevecida

Dai-me mais dores de plástico para a compaixão minha
Vos encher os olhos de blandícias somente
Mulheres da vida perdida e da história coitadinha
Para que eu na vossa doença me veja menos doente

Pois irão doer-me até os botões da camisa
Se me vir como o mais adoentado moribundo
Por entre o semblante tísico das carpas fedorentas do Tamisa
Serei mais doente, mais demente, mais imundo.

Revelai-me todas as dores de plástico que predilectam
As falsas e as mesquinhas, as infantis e as apelativas
Quero carpir dentro de vós os ais que me execram
Por entre os demais suspiros de deixas paliativas.

sábado, 24 de abril de 2010

Dernier Cri

(Viver rápido), morrer jovem

Estarei destinado aos mais altos voos
Se asas minhas forem audazes
E no sino dobrado rimarem mordazes
Os rumores assassinos da minha senda.

Estarei esquecido dos erros repetidos
E das oportunidades desperdiçadas
Se o mundo me inebriar de vícios antigos
Na minha comunhão com os meus nadas.

Estarei prepotente, arrogante convencido
Se esquecer o sorriso da minha mãe e os abraços dos amigos
E na minha total ignorância colectar amizades interesseiras
E fazer delas confidentes e minhas totais companheiras.

Estarei enternecido pelo corpo invejado de uma musa qualquer
Quando ignorar a verdadeira beleza de uma mulher
Fecharei os olhos e verei mais do que se os abrir
Viverei falsamente, no pensar e no sentir.

Estarei acelerado se detiver comigo dinheiro e bebida
Um automóvel com mais de duzentos cavalos e a respectiva chave
E estarei pronto para morrer e abandonar esta vida
Que estarei a maltratar no meu mais hediondo auto-entrave.

domingo, 11 de abril de 2010

D'outras cousas mais e a pureza

Pueril

Foi uma criança de sonhos e esperança
Que desconhecia que era infantil
Foi essa criança que brotou na vida sem lembrança
Num reforço do sorriso pueril
Foi uma criança que o tempo fez mudar
Para por mil anos continuar a debater-se sobre o senil
Foi uma criança crescer sem parar
Para envelhecer triste e vil
Foi uma criança cheia de esperança e feliz
Outrora sábia criança que já não sabe o que diz
Foi uma criança que deixou de ser pequena
Foi uma criança que de nove viu novena
Até foi uma criança que se deteve acima do percentil
Agora, já sem esperança
Desenvolvida sobre uma consciência pueril.

quarta-feira, 17 de março de 2010




Encanto de uma vida vilã e da insegurança

Sou aquilo que pareço
Sabem disso aqueles que privam comigo
Possuo mais do que mereço
Penso mais do que digo

Consomem-me culpas já perdoadas
Nem todas minhas. Ainda as cativo
O rancor é o canto das minhas alvoradas
Quando adormeço com o arrependimento de estar vivo

Tenho armas capazes de destruir a graça da vida
Munido de um dito calibre fogoso
Tenho as chaves com que tranco a última saída
Isolo-me do mundo que penso ser perigoso

Não me percorre nem orgulho nem revolta nem nobreza
Agora sou um conformista, destruído na vida
Qualquer sinal de engano é a minha realeza
Qualquer fim do mundo meu é a minha descida

Sonho com a ilha Gough, o monte Roraima e o heroísmo
E imagino-me neles sem ninguém ao meu lado
Não é por tristeza, é por egoísmo
Tenho prazer em começar onde acabo

E a arrogância é-me somente rumor
Nenhum talento em mim vigora
Inábil no afecto e no amor
Entrego-me a ninguém em nenhuma hora

Não por receio, é por egoísmo profundo
Que me ilude e não me deixa ver o meu receio imundo
Que bate tão no fundo como sangue que me aviva
Que é de medos e coragens que se me faz a pose altiva.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fevereiro eternamente




Por teres desaparecido

Ando à espera de que algo mude o mundo
Quando me passeio pela rua e ninguém nota
E quando me imagino lá no fundo
Regresso à casa próxima e fecho a porta.

São passeios curtos, de mãos vazias
Passos inseguros da minha sombra clandestina
Desço as escadas comendo os degraus de utopias
Que firmei no teu nome que me assombra

Estou louco. Em torno da vida desespero
E regresso sempre antes de chegar ao portão
Costumo aliás, deixar a porta aberta

Pois no meu saber reconhecer mais sincero
Sei que prefiro abraçar a minha solidão
Quando a tua campa me desperta.

domingo, 21 de fevereiro de 2010




Venenosa

Mataste-me com o teu sorriso de alma perdida
Por entre os escombros do teu passado
Puxaste-me o tapete que me meteu o chão na boca
Que sequiosa apenas me permitia lamentar a vida;
Agora levanto-me do encantamento apaixonado
Consciente de que és completamente louca.

Tento purgar o teu veneno impregnado no meu olhar
Como fumo negro que me afastou da atmosfera normal
Exilado na campa da morte dos meus sentimentos
Mas estás tatuada na minha língua convidada a murchar
Todo o meu reliquiário da guerra do meu bem com o teu mal
Querer que me torna imbecil na ânsia de te dominar os medos.

Hei-de calar-me para sempre se tu não vieres amantizar-me
Hei-de desistir de desistir se não vieres mostrar-me solução
Para os meus desencontros imediatos contigo
E se não vieres, hei-de calar-me
E cativar nas minhas tripas à tua paixão
Mesmo que ainda me queiras como amigo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Criptonauta vil




Relógio

Perdi tempo a argumentar
Na tentativa de obter justificação superior
Explicação sem pudor
Frontalidade dura de enfrentar

Perdi muito tempo a concretizar o impossível
E a idealizar com distinção reservas de opinião
Que resvalam e tombam na ilha do verosímil
Aonde alcança nenhum barco ou camião

Perdi tempo a abrir a porta
E a atravessá-la para me esbater em tons de sol
A soleira estava torta
E só me sobrou a chuva que acalmou um caracol

Que depois pisei distraído

Pisei tempo convencido
De que ainda havia mais para dar
Perdi tempo que eu não tinha compreendido
Ser estranho além da minha ampulheta rudimentar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Revisão



Poema Além-berço

Pretendo alcançar um novo caminho
Altivo, astuto. Alterno passagens.
E passam-me o passaporte do rumo sem carimbo
De todos os itinerários das minhas viagens
Penso ser mais fácil se me arrastar o vento de um cachimbo
Que fumo, estulto. Eu sei duma terra mais imensa
Eu conheço um lugar mais que superior.
Onde correm ventos da lira propensa
Aos sons dum trovador
Que se silencia para lá das serras, dos penedos
No cachimbo que se apaga com a dor
De uma paz que se envolve no acanhamento e nos medos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O amor requer agilidade




Porque o amor é uma doença

Mulher:
Eu quero beijar loucamente
O teu rosto indiferente
E o teu seio bruscamente
Quero apertar
E morrer de encanto
No sobressalto outro tanto
De quando a noite mais singular
Me preenche de sonho e vida
Na mais fugaz subtil e incontida
Forma doentia de amar.