sexta-feira, 22 de outubro de 2010




Carta número 99 - devolvida


Meu amor:
Quero que saibas que já dissequei o sistema límbico
E abandonei o vício de padecer de emoção
Num torpor sísmico
Agarrei-me à vida e disse NÃO.
Ainda espero pela tua resposta que tarda em brotar
Sei que não és como a carneirada habitual
Hás-de tardar em me revelar a tua graça salutar
E eu hei-de esperar de pedra e cal.
Mas por vezes a dúvida flagela os meus sentidos
E por momentos que só eu sei serem breves
Cai sobre mim a emoção com tanta força que me estalam os ouvidos
Não me temas como temeste ao abominável homem das neves
Dá-me um sinal.
Recebe esta carta e não digas mais nos correios que mudaste de região
Estás plantada no inerme e desfalecido patriotismo original
E todo o chão que tu pisas é a minha religião.