quarta-feira, 17 de março de 2010




Encanto de uma vida vilã e da insegurança

Sou aquilo que pareço
Sabem disso aqueles que privam comigo
Possuo mais do que mereço
Penso mais do que digo

Consomem-me culpas já perdoadas
Nem todas minhas. Ainda as cativo
O rancor é o canto das minhas alvoradas
Quando adormeço com o arrependimento de estar vivo

Tenho armas capazes de destruir a graça da vida
Munido de um dito calibre fogoso
Tenho as chaves com que tranco a última saída
Isolo-me do mundo que penso ser perigoso

Não me percorre nem orgulho nem revolta nem nobreza
Agora sou um conformista, destruído na vida
Qualquer sinal de engano é a minha realeza
Qualquer fim do mundo meu é a minha descida

Sonho com a ilha Gough, o monte Roraima e o heroísmo
E imagino-me neles sem ninguém ao meu lado
Não é por tristeza, é por egoísmo
Tenho prazer em começar onde acabo

E a arrogância é-me somente rumor
Nenhum talento em mim vigora
Inábil no afecto e no amor
Entrego-me a ninguém em nenhuma hora

Não por receio, é por egoísmo profundo
Que me ilude e não me deixa ver o meu receio imundo
Que bate tão no fundo como sangue que me aviva
Que é de medos e coragens que se me faz a pose altiva.