quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



Vou agora

É obrigatório ser-se demasiado.
É indispensável exagerar mesmo um pouco mais
Onde crescem as saudades neste sentido deslumbrado
De quem grita muito mas só espanta os pardais.

Porrada. Já levei porrada.
Na ribeira que não desagua nunca na praia
A vida entoada pela raiva vale tudo e vale nada
Montanhas de cuspo! Espumavam na boca da minha raia.

Prometo voltar às escadas. Sempre para subir.
O sol que reluz no Novembro ameno
Despreza os que pedincham atenção no vão do ir.
Aquece-me os passos no passeio mais terreno.

Contra o vento. Contra o vento.
Nem mais um dia nem uma hora só que vá
Conspurcar a sensível magia do meu alento
Em erguer-me no meio dos de cá.

Culpa minha. Sempre culpa minha.
Nem o mundo que roda em seu redor nota
Nem mesmo o brilho do sol que definha
Nestes passos, culpa minha.

Não mais irei. Rumarei jamais.
Que a senda da minha barca sem remos nem quilha
Conhece margens e desconhece cais.
Derivo no mundo infértil que aos outros maravilha.