É no pescoço e é na cabeça
No tronco, no peito e no dorso,
É no rosto e nas mãos e nos pés…
É onde a alma aquece.
Na boca. Bebe quente e aquece
Bebe frio e arrefece.
Come e fuma e beija
E debaixo da língua o termómetro fervilha…
O calor é.
Um regresso excomungador
É no pescoço e é na cabeça
No tronco, no peito e no dorso,
É no rosto e nas mãos e nos pés…
É onde a alma aquece.
Na boca. Bebe quente e aquece
Bebe frio e arrefece.
Come e fuma e beija
E debaixo da língua o termómetro fervilha…
O calor é.
Tudo o que davas afinal era para ti
primeiro agredias e depois eras a vitima
brilhavas quando acertavas
e não tinhas culpa quando falhavas.
Foste longe e sabias tudo no passado
e lamentas o mundo ter-te perturbado
porque o esquecimento também te foi endossado
e agora pagas com o saudosismo reinventado.
Ponderas ser a maior das palavras
O momento mais distante e celestial
ponderas o futuro e o presente
e dizes-te paranormal.
embora esgotado
eu abdico do silencio que pudesses conferir
um dia calar-te-ás enterrado
e então saudades tuas irei sentir.
Quando o tempo é doloso
Os relógios abrandam
Quando o vento é ventoso
Os palácios desabam
Quando as vidas acabam
O tempo persiste
Quando as palavras divagam
O Nada existe.
Abysmo
Pensar é perder:
pensei que se fosses e eu ficasse
estarias melhor e eu bem estaria
pensei que se eu vivesse na sombra
tu resplandecerias na magnifica luz do dia
pensei que se fosses feliz, eu tambem seria
pensei que se fosses imortal
eu nenhuma falta te faria,
e tu poderias brilhar num sonho matinal
na minha utopia.
Pensei que os pesadelos e a insónia não exixtiriam
pensei que a culpa e o remorso desvaneceriam
pensei que deus existia
pensei que a esperança bem fazia
e pensei que tinha pensado tudo em vão,
e deixei de pensar então,
nao penso mais.
Sou irracional emoção
de revolta contra os pecados capitais
segurando o desespero na mão:
Pensei que te veria mais
até eu fermentar sob o chão
mas pensei erradamente
inversamente!
e a vida irracional deu-me um empurrão.
Domingo
num país sem igual
repousa a classe maioritária de oprimidos
julgam-se os eleitorados e os vencidos
em parte tangente a Portugal.
chega domingo e
São vermelhos, são rosas e são laranjas e são azuis...
e nenhum ilumina o arco-íris, nenhum vigora num jardim
os insolares também pecam para não comprometer
a missão e o desiderato de perder.
termina domingo e
Não vamos viajar
há muito trabalho vamos descansar
há decisões por conhecer
todos a mentir e tantos sem votar.
FALAM DE MIM
Falam de mim...
Por agora, na sensação do espaço / no seu sentimento.
na simples perceção do limite / na percussão cardíaca contra cada delimitação
reside um senhorio e um hóspede / uma inflamação
e um unguento.
Em breve, será a liberdade apenas uma promessa suja / de propaganda
e a suposta realidade do impossível: meramente isso.
Na porta um fechadura sem chave / e sem serviço
até ela nada se dirige nem anda / só tresanda.
Agora, atrevo-me a falar do espaço e do tempo / mesmo assim
sem soneto / sem significado e sem cuidado semântico
num predicado desprovido de estilo / embora romântico
no inicio foi o verbo / agora fundamentalmente o fim.
Pois que quando o tempo e o espaço se perdem / tudo é vazio
a memória, o passado e o futuro derretem / o círio abençoado
desmoronado / e sem pavio
Muito embora, o rosto estará macilento e frio
quando tão grandemente foi rosado e sadio.
Assim tudo se afoga/ nesta água de um rio / sem foz / sem fim.
Udenista, hedonista, anedonista. Ateu.
Nada, neocartilagineo, gastrópode. Filisteu.
Rastejante, considerante, ignorante. Plebeu.
Subrreptício, anticomício, niilista. Sou eu.
São de ferro os arados que me reviram no planalto
da saudade defunta renascida no meio do ódio e da revolta
são de pedra os muros desabados pelo lamento
e que vergaram nos critérios do tesouro do tempo.
Verdes são as aspirações imaturas, impreparadas, imprevistas
outrora fundamentais, tenebrosas e sem calma
São negras, chamadas de sonho e de desejo,
podres agora sem alma e sem almejo.
Ainda espero que a America do Sul me chame
e não mais estanque os meus sonhos no planalto que já
não conheço nem ele me reconhece e lhe sou infame
fui abelha de outra colmeia e sou vespa africana por cá.
APENAS AMO O QUE ESQUEÇO
Bens Essenciais
Todos querem ser salvos.
Tenho tudo o que preciso
Muito mais ainda me sobeja
Por isso não voltarei àquela igreja
Onde muitos outros perdem o juízo
Essa conversa de milagres e de fé
Deixa um gajo enjoado
Que por muitas voltas que não dê
Acaba sobre o vomitado.
Não preciso nem de deus nem da aurora
Eu ando aqui a curtir a vida
Até que um dia irei embora
Não preciso nem de fé nem de espírito santo
A minha alma está limpa
Lavo-a com a paixão e o meu canto.